Pode até ser, mas eu adoro!
Frustração, tendência depressiva e a “naturalização do assédio nas redações” são os principais pontos que, nos últimos 10 anos, contribuíram para que a profissão de jornalista estivesse na lista das piores do mundo. Veiculada pela Agência Pública, a reportagem que traz na assinatura o nome de quatro repórteres mostra que, embora as grandes empresas de comunicação não reconheçam que haja crise, a decadência é inegável.
Dividida em três abordagens, a matéria “A pior profissão do Mundo” é baseada em estudos e relatos de personagens. O texto mostra que seis em cada dez jornalistas que trabalham em veículos de comunicação e produtoras de conteúdo exercem sua profissão em meios impressos – sendo que, quem trabalha em jornal, tem rotina de pelo menos 10 horas por dia. “Dos jornalistas atuantes na mídia, 59,8% possuem carteira assinada. Outros dados demonstram como variadas formas de contratação têm sido adotadas. Ao somar o número de freelancers (11,9%) com os jornalistas que possuem contrato de prestação de serviços (8,1%) e os que firmaram contrato de pessoa jurídica, os PJs (6,8%), são 26,8% de todos os trabalhadores de mídia. O percentual de freelancers em atuação na mídia é duas vezes maior que o de freelancers fora da mídia”, diz o texto.
O acumulo de funções também revela outro ponto preocupante na profissão, principalmente em meios impressos, que sofreram recentes cortes. “Os donos de jornais – em um processo de ‘sinergia’ – integraram as redações de modo a eliminar a separação entre trabalhadores do online e do impresso, economizando custos com recursos humanos enquanto adquiriam novas tecnologias de organização de dados, captação e edição de vídeos e de transmissão das informações para desdobrar o conteúdo em tablets e celulares, por exemplo. O mesmo corpo de jornalistas, arrochado pelas demissões, tem de produzir conteúdo nos mais diferentes formatos para o impresso e para a internet”.
Convidado para cobrir férias na Agência Estado, José (nome fictício do personagem entrevistado pela Pública), trabalhou por quatro anos sem registro e chegou à função de editor-assistente. Na empresa, ele era considerado “freela fixo”, embora tenha tentado negociar a contratação. “Eu era bem avaliado pelas chefias e continuava sendo um colaborador, sem nenhum direito trabalhista”, contou a fonte. A Pública revela que, com base no estudo do pesquisador da Universidade de Campinas (Unicamp) José Roberto Heloani – que desde 2002 investiga os problemas de saúde no ambiente de trabalho do jornalista – todas essas questões afetam seriamente a saúde dos profissionais de comunicação, em que muitos acabam consumindo cada vez mais álcool e drogas, como calmantes.
Fonte: Comunique-se