Uma das estrelas mais brilhantes dos anos 80 e 90, a cantora e atriz Whitney Houston, que, entre outros grandes feitos, vendeu mais de 200 milhões de discos em todo o mundo, é a única artista a conseguir emplacar sete canções consecutivas no primeiro lugar da parada de sucesso da revista Billboard e que está no livro dos recordes como a cantora com mais prêmios em todos os tempos, volta aos holofotes com o lançamento de uma biografia e uma coletânea com seus maiores sucessos.
O livro Whitney Houston – A espetacular ascensão e o trágico declínio da mulher cuja voz inspirou uma geração (Sonora Editora), escrito pelo jornalista Mark Bego, que já escreveu mais de 50 biografias sobre astros como Elton John, Aretha Franklin, Elvis Presley, Michael Jackson, Madonna, Billy Joel e Leonardo DiCaprio, traça um perfil completo sobre a vida da estrela, que surgiu como um cometa em meados dos anos 80 e que passou por um casamento cheio de turbulência, enfrentou os (muitos) boatos sobre a sua sexualidade, encarou a decadência e a lenta perda da batalha contra as drogas, que lhe roubaram a doçura, voz e a própria vida.
“Whitney Houston era uma incrivelmente linda e talentosa cantor e atriz que conseguiu obter sucesso em todo o mundo. Infelizmente, ela também era amaldiçoada com um uma veia autodestrutiva que terminou com sua vida muito cedo”, conta Bego.
A carreira
Whitney Elizabeth Houston nasceu em 1962 cercada por uma família cheia de artistas. A mãe, Cissy Houston, era uma cantora gospel da banda Sweet Inspirations, com a cantora Doris Troy e a sobrinha Dee Dee Warwick – a outra, Dione, se transformaria em uma estrela de primeira grandeza. Entre as “tias” ainda estava Aretha Franklin, o que impregnava o cotidiano da pequena Whitney de música da melhor qualidade.
Cantando em corais de igrejas e com a mãe em algumas apresentações, Whitney logo se destacou e em 1983 o então presidente do selo Artista, Clive Davis, que se tornaria uma das figuras mais importantes na trajetória musical da cantora, ofereceu a ela um contrato de gravação. O cuidado de Davis com o futuro de Whitney era tão grande que ela só começou a gravar seu primeiro disco dois anos depois, quando finalmente o executivo achou que tinha encontrado o material adequado para ela. Antes disso, apenas um single – Hold Me, dueto com o cantor Teddy Pendergrass – foi lançado.
O ano de 1985 pode ser lembrado pelo Live Aid ou pela primeira edição do Rock in Rio, mas também é o ano no qual o mundo tomou conhecimento da presença de Whitney Houston, que lançou seu autointitulado disco de estreia, onde alcançou os primeiros lugares das paradas em quase todo o mundo com canções como Saving All My Love for You, You Give Good Love, How Will I Know e o grande hit Greatest Love of All.
O sucesso do disco rendeu uma grande turnê, um punhado de prêmios Grammy e muito dinheiro. O que veio a partir daí foi um espiral de sucessos, culminando na sua aparição nas telas e na produção da trilha sonora de seu maior êxito: o filme O Guarda Costas, onde atuou ao lado de Kevin Costner, interpretando o papel de Rachel Marron, uma cantora de sucesso que é perseguida por um fã maluco e que precisa contratar um guarda costas (Costner) para protegê-la, um papel na medida para Whitney. Depois do estrondoso sucesso do filme e da trilha sonora, Whitney começou a ser mais noticiada pelo casamento com o bad boy Bobby Borwn (que havia feito parte do grupo New Edition), vários anos mais novo que ela e com um currículo de confusões bastante invejável.
“Quando conheci Whitney ela era apenas uma adolescente que fazia backings para a sua mãe, em Nova York. Ela cresceu, virou uma superestrela e ninguém poderia suspeitar que aquela menina doce fosse se rebelar contra o controle imposto em sua vida. Quando ela assinou com o selo Artista, diziam como ela deveria se vestir e se comportar em público. Entretanto, ela se tornou tão inacreditavelmente popular que ela passou a querer ter certeza de poder fazer o que quisesse. Infelizmente, encontrar Bobby Brown e se envolver com cocaína a levaram a uma espiral descendente. Clive Davis a encorajava a ser a melhor pessoa que ela pudesse ser, enquanto Bobby a encorajava a ser a pior pessoa que ela poderia ser e ela começou a fazer uma escolha errada atrás de outra”, complementa Bego.
E as escolhas erradas envolveram festas onde Whitney e seu marido consumiam cocaína, álcool e outras drogas em uma quantidade tão absurda que na maioria das vezes a noite terminava com uma ambulância levando um dos dois para algum hospital por suspeita de overdose.
O excesso de dinheiro, liberdade e o abuso das drogas acabaram com a boa imagem da diva, assim como com sua voz e vida, em um enredo já protagonizado por muitos outros brilhantes artistas em vários níveis, como Jimi Hendrix, Brian Jones e Amy Winehouse, só para citar alguns.
“Apesar de alguns amigos bastante chegados de Whitney falarem coisas boas sobre ela, também existe um grande número de pessoas que testemunharam ela sendo rude, cheia de exigências e até cruel. Ela se transformou em uma pessoa com qual nem sempre era bom estar por perto. Ela teve duas estradas diferentes para escolher na sua vida e ela preferiu o caminho da autodestruição. Do jeito que as coisas foram acontecendo para Whitney, sua morte foi ao mesmo tempo trágica e inevitável”, conclui o autor.
Com o passar do tempo e o vício cada vez mais forte, Whitney passou a ter atitudes cada vez mais rudes e menos profissionais. Eram compromissos profissionais onde não aparecia ou pior, comparecia e pedia para que ninguém se aproximasse dela. Ela chegou a deixar George Michael duas semanas esperando para gravar com ela e nunca aparecer para sequer agradecer a viagem do cantor, que viajou da Inglaterra para os Estados Unidos a pedido da produção da cantora!
Com uma narrativa direta, leve e recheada de dados e depoimentos, Whitney Houston – A espetacular ascensão e o trágico declínio da mulher cuja voz inspirou uma geração é um ótimo exemplo de como uma história real que mistura drama, sucesso e decadência pode ser contada com detalhes e emocionar, sem ser piegas.
Se ler o livro pode ser uma experiência triste, ler ouvindo os sucessos de Whitney é algo que beira a crueldade. O também recém-lançado CD I Will Always Love You: The Best of Whitney Houston (Sony Music) traz todos os grandes sucessos da cantora e mais duas faixas inéditas, que servem para comprovar que, mesmo com a voz já debilitada, ela ainda podia fazer bonito em um estúdio de gravações. A qualidade das faixas torna mais difícil ainda entender como alguém com tanta beleza e talento foi capaz de se sabotar com tanta determinação.
O álbum segue, em ordem cronológica, a trajetória de sucessos da cantora, com uma série de canções que passam pelo soul, gospel e baladas com boas doses de açúcar, mas que são familiares para qualquer pessoa com mais de 30 anos ou que já tenha visto O Guarda Costas em alguma Sessão da Tarde.
Músicas como as já citadas How Will I Know e Greatest Love of All, em companhia de outras como So Emotional, Exhale (Shoop Shoop) e, claro I Will Always Love You, tornam o disco um apanhado de canções que não se pode desprezar e que só mostram que o status de Whitney como Diva era mais que merecido. A voz límpida, firme e os agudos potentes – não confundir com as gritarias de alguma Mariah Carey da vida. Suas interpretações sempre foram sóbrias, mesmo nos momentos mais cheios de glicose, e a produção de gente do calibre de Narada Michael Walden e Babyface, sempre sob a supervisão de Clive Davis, não deixavam espaço para excessos. Tudo é misturado com perfeição para alcançar o público do soul, do gospel e os amantes do pop.
As 18 faixas de I Will Always Love You: The Best of Whitney Houston servem como um registro de uma artista que alcançou o quase inatingível e que deixou a sensação de que poderia ir ainda muito mais longe. Uma bela homenagem e um ótimo documento da voz que dominou por um bom período as rádios de todo o mundo.
Uma versão editada deste texto foi publicada no jornal O Fluminense