Como todos no Brasil, venho acompanhando as “manifestações” contra o aumento das passagens em várias capitais do país, principalmente Rio de Janeiro e São Paulo. Na manhã de hoje vi cenas da “repressão violenta” da polícia e ouvi relatos e comentários que me deixaram preocupado e envergonhado ao mesmo tempo.
Primeiro, foram os comentários e declarações de membros dos “protestos” (sim, entre aspas e em itálico), que insistiam (sem a menor convicção) de que toda aquela confusão era apenas por conta do aumento das passagens dos ônibus, que faz sentido destruir coletivos, bancas de jornal, estabelecimentos comerciais e atrapalhar a vida de quem trabalhou o dia inteiro. Como diz o Ricardo Boechat: “vai protestar na frente da casa do prefeito, do governador ou da mãe deles e não atrapalhando o funcionamento (já precário) das cidades”. Depois, os protestos indignados de jornalistas e sociólogos de que houve excessos por parte da polícia, que jornalistas haviam sido detidos e alguns feridos.
Bem, vamos aos fatos que pude constatar.
– Os “protestos” têm motivações muito mais profundas do que apenas o aumento das passagens. Há boas motivações – como a verdadeira indignação, não contra o preço, mas contra a qualidade dos serviços de transporte que nos são oferecidos – e as más motivações – como a disputa política de uma eleição que só acontece no fim do próximo ano e o “prazer” de participar de um ato (de vandalismo).
– Houve excessos de ambas as partes. Que a nossa polícia é despreparada, não deveria ser preciso lembrar, mas achar que atirar bombas incendiárias, destruir ônibus, atear fogo em lixo que foi espalhado nas ruas após a destruição das latas onde estavam depositados, não seria alvo de repressão é de uma ingenuidade ímpar. Como disse o Marcelo Janot: “É natural que, na primeira vez em que um povo que passa décadas sendo vilipendiado pelo poder público finalmente deixa de lado sua tão notória “cordialidade”, haja exageros na forma de se manifestar. É como um bebê aprendendo a andar. Mas é com a prática que se aprende“. O problema é que nessas passeatas sempre tem alguns marginais, como os que se infiltram na pele de torcedores de times ditos populares, apenas para extravazar sua violência e má índole.
– A atitude de muitos coleguinhas (repórteres e fotógrafos) foi de dar vergonha. Claro que somos loucos e muitas vezes nos colocamos em locais e posições que são perigosas, mas algumas cenas que vi – principalmente a de um fotógrafo que derrubou e depois chutou o capacete de um policial e foi detido – foram de amargar. Claro que também há fotos e registros de policiais jogando spray de pimenta em cinegrafistas, mas via de regram quem fica no meio dos manifestantes não pode reclamar de que foi alvo de balas de borracha, cacetadas ou bombas de efeito moral, assim como não é admissível corporativismo e tentativa de fazer drama com essa situação, como visto em algumas redes de TV ligadas a grupos religiosos.
Sempre reclamamos da passividade do brasileiro, de que ele só se organiza mesmo para shows e festas, mas acho mesmo – concordando mais uma vez com o Janot – que falta costume em promover esse tipo de ato. Juro que não me lembro desse tipo de confusão nas manifestações pelas eleições diretas ou pela queda do Collor. Se aconteceram, foram muito menores em relação ao número de pessoas nas ruas. Reclamar da Polícia Militar é uma idiotice. Eles estão lá para cumprir ordens e dispersar esse tipo de ação, esteja ela certa ou errada. É o braço dos governos e, ao primeiro sinal de “provocação“, partem mesmo para cima.
No caso de São Paulo, vale lembrar que no primeiro dia de protestos um PM foi atacado e quase linchado pelos “manifestantes“. Achar que eles não estariam mais propensos em meter a porrada em quem quer que seja é, digo mais uma vez, de uma ingenuidade absurda.
Outra coisa que me preocupa é ter lido alguns cartazes ameaçando não permitirem a realização da Copa das Confederações, com mais manifestações como as que temos visto. Gente, isso vai dar merda! Imagine alguém atirando uma pedra, digamos, no ônibus da delegação da Espanha. Nada impede que aconteça uma morte por conta de uma “ameaça terrorista” como a desse ato.
Nunca fui de direita, mas nunca fui fã de radicalismo e baderna. Se nossos governantes são ladrões, incompetentes, safados mesmo, vamos mostrar nossa indignação nas próximas eleições ou vamos causar transtornos a ele e não aos pobres que precisam enfrentar um busão depois de um dia cansativo de trabalho.