Houve um tempo no qual as trilhas sonoras das novelas rivalizavam com a ótima qualidade das produções da nossa teledramaturgia. Infelizmente, da mesma forma que a qualidade do produto televisivo caiu, a das canções escolhidas para embalar as tramas também foi indo em curva descendente para o fundo do poço. A boa notícia é que, de algum tempo para cá, parece que os núcleos responsáveis pela escolha das canções que serão temas de romances, vinganças, dramas e risadas, parece ter deixado de lado o apelo comercial do sucesso rasteiro e estarem voltando a apostar em boa música. Esse é o caso da trilha sonora da nova versão da novela das 19h, Guerra dos Sexos (Som Livre).
Se na trilha da versão original (de 1983) tínhamos Lulu Santos, Caetano Veloso, Roupa Nova, Raul Seixas e Emílio Santiago, entre outros, nesse remake, o cast conta com nomes como Marisa Monte, Wanderléia, The Originals, A Cor do Som, Ana Carolina e Elis Regina. Nada mal, embora, no balanço final ainda fique um pouco aquém do lançamento da década de 80.
Não importando como vai a trama na televisão, o disco é uma experiência bastante agradável e uma prova de que se pode fazer algo com apelo popular e bom gosto. Afinal, uma coisa não exclui a outra! A trinca de abertura – Simplesmente Aconteceu (Ao Vivo) – Ana Carolina, Comigo É Assim – Elis Regina e Viva – A Cor do Som – é uma porrada musical, juntando três grandes nomes de nossa música em registros dos mais felizes. Claro que o grande destaque do CD é mesmo Marisa Monte e a sua Aquela Velha Canção, que nos remete ao melhor que Roberto e Erasmo Carlos já produziram. Mantendo o bom nível estão as escolhas de Rapaz (Rita Lee), Vem que Tem (Eduardo Dusek com a participação de Elza Soares) e da regravação de Guerra dos Sexos (The Originals & Augusto, do The Fevers).
Os escorregões de escalação – Banda Calypso, Projota e Ricky Vallen, por exemplo – não chegam a tirar o brilho do disco, mas poderiam ser evitados.
Tomara que essa nova onda, bastante visível no lançamento da trilha de Gabriela, venha para ficar e que possamos, mesmo que a novela não faça muito sucesso, lembrar de suas canções por muito e muito tempo.
Um versão deste texto também foi publicado no jornal O Fluminense