Já se passou tempo suficiente para podermos analisar os fatos (divulgados) sobre o massacre acontecido na cidade de Newtown, Connecticut, nos Estados Unidos. Só para relembrar, no dia 14 de dezembro, um louco entrou no colégio Sandy Hook e matou 26 pessoas – 20 crianças com idades entre 6 e 7 anos e seis adultos – a tiros.
O episódio trouxe de volta um dos piores vícios da nossa sociedade: a tendência de querer proibir tudo, ao invés de cobrar mais fiscalização. Como qualquer um sabe – dos gestores de recursos humanos aos responsáveis pela parte de tecnologia de qualquer empresa -, a maneira mais confortável e menos trabalhosa de evitar problemas e proibir que se tenha acesso a qualquer coisa que possa ajudar a causá-los. Essa prática permite que se obtenham resultados sem precisar trabalhar ou criar mecanismos de controle que às vezes exige uma competência que não existe.
Esse novo episódio de violência sem sentido fez aflorar o sentimento de inconformismo de vários veículos de imprensa e de vários jornalistas. Foi um festival de memórias sobre outros dias de fúria e outro de especialistas sendo consultados. Mas o triste mesmo foi ver o esforço de alguns coleguinhas em tentar empurrar a ideia de que o problema todo está na facilidade em comprar uma arma nos Estados Unidos – um resquício da derrota do plebiscito que queria proibir a venda de armas no Brasil. Foi constrangedor. Todos os relatos eram aceitos se fossem favoráveis a essa teoria. Os que não iam em sentido contrário, eram contestados.
É óbvio que nenhum ser humano com um pouco de consciência acha certo que uma pessoa comum consiga ter acesso a um fuzil ou uma metralhadora. Até mesmo as pistolas automáticas me parecem um excesso, mas isso é apenas uma questão de fiscalização. Já tentou comprar uma arma no Brasil? É preciso uma série de documentos, atestados e comprovação de que fez um curso para saber manusear a arma. Portanto, não faz sentido proibir, apenas cobrar que essas regras sejam cumpridas. Senão, teremos que proibir a venda de carros, já que alguém pode comprar um e atropelar alguém.
Os seguidos casos de atiradores loucos fuzilando inocentes a esmo é um fenômeno que necessita de um estudo muito mais profundo. Vale lembrar que no Canadá as regras para compras de armas são praticamente as mesmas dos Estados Unidos e não há registro de casos desse gênero por aquelas bandas. É quase como se as escolas norte-americanas tivessem em sua grade a disciplina: Como enlouquecer e matar inocentes.
A quantidade de pessoas desequilibradas na terra do Tio Sam é gigantesca e entrar atirando em lanchonetes, cinemas ou escolas é uma prática que acontece no país desde a década de 1920, muito antes, portanto, que o advento das mazelas da vida moderna atual. Andrew Kehoe (no dia 18 de maio de 1927) entrou em uma escola do estado de Michigan e matou 38 estudantes e seis adultos, além de ferir outras 58 pessoas.
Essa quantidade enorme de atiradores loucos é um caso específico da sociedade dos Estados Unidos e não é proibindo a venda de armas (o que já foi comprovado não é a vontade do povo de lá, nem de cá) que se resolverá o problema. É preciso fiscalização contra a venda ilegal, contra o acesso de pessoas com problemas psiquiátricos, etc. Afinal, são jovens, adultos e velhos enlouquecendo sem razão. Esse controle demanda dinheiro e trabalho, o que nunca é muito bem recebido pelos nossos políticos.
Espero que nossos coleguinhas tenham agido da maneira (errada) como agiram por convicções pessoais e não por imposições das empresas onde trabalham. Mas, seja por uma razão ou por outra, perderam a chance de aprofundar a discussão sobre um fenômeno que nos assusta cada dia mais.
O ímpeto brasileiro por proibir é algo tão assustador quando o dos que puxam um gatilho contra inocentes.
PS: Não uso armas, não gosto de armas, não possuo armas e não compraria uma, mas acho que o problema da segurança pública é profundo e complexo e não passa por nenhum tipo de proibição desse tipo.