O álbum, que fala de temas sombrios e pesados, traz riffs repetitivos e mostra que pouco mudou desde o lançamento do bom Cê (2006) e do fraco Zii e Zie (2009)
Abraçaço (Universal), o terceiro e último disco de Caetano Veloso e da BandaCê – Pedro Sá (guitarras), Marcelo Callado (bateria) e Ricardo Dias Gomes (baixo) -, mostra que pouco mudou desde o lançamento do bom (e superestimado) Cê (2006) e da Obra em Progresso que se transformou no fraco Zii e Zie (2009).
A primeira impressão da bela capa de Abraçaço se desfaz logo após a audição da faixa de abertura A Bossa Nova é Foda. A partir daí, são poucos os momentos memoráveis do disco. A nova empreitada de Caetano não traz transambas ou rocks, mas uma coleção de canções que falam de temas mais sombrios e pesados. Se o artista se mostra em forma com sua poesia (?), fica a impressão que faltou um pouco mais de capricho na criação das melodias e dos arranjos, que continuam com as mesmas características dos dois trabalhos anteriores: riffs repetitivos, bateria simples e a intenção de criar sons hipnóticos, que muitas vezes acabam se tornando apenas chatos.
As mensagens são engajadas, mas falta liga entre letra e música. Canções como O Império da Lei e Estou Triste mereciam mais. Mereciam uma melodia que se pudesse cantarolar logo após a primeira audição, como as de A Cor Amarela. Fica claro que a fórmula que trouxe um sopro de juventude ao baiano, hoje, setentão, mostra-se cansada. Parece que o conceito se transformou em algo mais importante que o conteúdo.
Abraçaço, apesar dos seus pecados, ainda se encontra acima de Zii e Zie, mas está longe de ser um álbum à altura do talento de um dos mais brilhantes compositores da MPB.
Esse texto também foi publicado no jornal O Fluminense