Guitarrista se apresenta no dia 17 de dezembro, no Rio Rock e Blues Club, na Lapa
Blues é coisa de negro americano. A afirmação pode soar lógica, já que o ritmo criado nas plantações de algodão do Sul dos Estados Unidos e que fala de tristeza e amores perdidos, tem, entre os seus principais ícones, nomes como Robert Johnson, Buddy Guy, Muddy Waters, B.B.King, Ray Charles e Jimmy Hendrix. Entretanto, nomes como Eric Clapton, Stevie Ray Vaughan, Johnny Winter e, no Brasil, Big Gilson, desmentem essa verdade.
O guitarrista carioca, que já fez parte do finado e ótimo Big Allambik, é um dos músicos mais reconhecidos internacionalmente, sendo, inclusive, apoiado por empresas como a fabricante de amplificadores Marshall, que faz parte do equipamento dos maiores astros da música desde os anos 60. Com uma carreira internacional consolidada, Big Gilson lança seu primeiro DVD, comprovando sua excelência como um dos grandes guitar heroes da atualidade.
Gravado em um pequeno pub em Buenos Aires, Big Gilson & Blues Dynamite é um documento onde, acompanhado dos ótimos Gil Eduardo (bateria e backing vocals) e Flávia Couri (baixo, órgão e backing vocals), Gilson toca músicas próprias de seus vários discos com clássicos do blues e uma marcante homenagem a Jimmy Hendrix.
“Gravar em Buenos Aires foi uma coincidência. Três anos atrás, estive lá no Mr. Jones Pub, fiz um show acústico e acabei gostando. A casa é pequena, toda de madeira e tem uma ótima acústica”, conta Gilson sobre a escolha do local da gravação.
Intimidade pode ser a palavra perfeita para descrever o ambiente. Pouquíssimas mesas apertadas em um espaço exíguo e com garrafas de cerveja, vinho e uísque para regar o som que sai do apertado palco. Além disso, nada de participações especiais, o que se vê é Big Gilson e banda em estado puro, com destaque apenas para os próprios músicos.
Outro ponto importante do projeto foi a vontade de fazer um ‘trabalho honesto’, sem edições.
“O CD e DVD não tiveram overdub, foi tudo feito de primeira. Com isso, pelo menos umas quatro músicas não entraram no projeto por não ficarem no nível de performance das outras. Mas quem assistir ao DVD vai ter a certeza de ver e ouvir exatamente aquilo que foi tocado, sem truques ou retoques de estúdio”, explica o guitarrista.
O projeto é voltado não apenas para o Brasil, mas também para o mercado internacional. Assim, o máximo de português que se ouve é uma contagem antes de alguns números. Fora isso, tudo é falado em inglês, idioma ‘original’ do blues.
O repertório passa por canções de mestres como Al Green (Take Me To The River), Big Bill Bronzy (I Feel só Good) e Roy Buchanan (Messiah Will Come Again), além do já citado Hendrix e de canções do próprio Gilson. Todas interpretadas com uma energia e talento que separam os bons dos grandes músicos. Como bônus, ainda há uma versão de estúdio de Changes, do Black Sabbath, rock pesado de primeira em versão blues.
Mas qual a receita para um músico branco brasileiro ser reconhecido no mundo do blues?
“Hoje ficou mais fácil. As informações chegam com mais rapidez e é mais simples divulgar o seu trabalho. Há diferenças na maneira de tocar, já que nos Estados Unidos o pessoal é mais tradicionalista, enquanto na Europa já há mais pitadas de rock. Mas o básico mesmo é fazer boa música”, resume.
Estaria o blues morrendo?
“De maneira alguma. Claro que muitos dos grandes expoentes do gênero estão ficando velhos.
O Clapton mesmo já não é um garotinho (tem 66 anos) e é muito mais novo que a maioria dos grandes nomes conhecidos do público, mas tem gente como o Steve Strongmen, o Ian Parker e Joe Bonamassa, que ainda têm muita lenha para queimar. Há muitas bandas boas no Brasil e no exterior, o que falta mesmo é divulgação”, explica Gilson otimista. Com discos ao vivo gravados no Texas e até mesmo no Blues Note, em Nova York, Gilson espera alcançar novos públicos com esse trabalho, seu primeiro desde o ótimo Sentenced to Living (2009).
“Agora as pessoas de lugares onde ainda não tocamos poderão ter uma noção da música que tocamos. Isso deve abrir novos horizontes para nossas apresentações”, prevê.
Uma banda de respeito
Seguindo o conceito do power trio, imortalizado por bandas como o Cream ou o Jimmy Hendrix Experience, Gilson recrutou Gil Eduardo, que fundou e tocou nos cinco primeiros álbuns do Blues Etílicos e é considerado um dos maiores bateristas do gênero, e a bela e talentosa Flavia Couri, que também toca nas bandas Doidivinas e Autoramas.
O resultado é um som coeso, pesado e sem frescuras. Totalmente adequado ao clima do Mr. Jones Pub e da maioria dos palcos brasileiros de blues.
O lançamento oficial do CD e DVD acontece no dia 17 de dezembro no Rio Rock & Blues Club, na Lapa.
“Tocar no Rio ou Niterói não é fácil. Na verdade, o problema é o mesmo em quase todo o País. Precisamos de um circuito de bares onde se toque mais que samba ou MPB”, lamenta o guitarrista.
Enquanto não chega a hora de lançar o projeto no Rio, Gilson e o Blues Dynamite seguem para a Espanha, Inglaterra e Leste europeu, em novembro.
“Ainda não fechamos uma programação para divulgar o DVD, mas quero me dedicar a trabalhar o álbum. Provavelmente farei menos turnês lá fora para poder dar um gás na divulgação do álbum aqui no Brasil”, explica.
Texto originalmente publicado no site do jornal O Fluminense