Muitos anos atrás – quando tinha 17 ou 18 anos – fui passar um carnaval em Macaé, em uma casa na beira da praia. Todo dia era: praia, bloco, cerveja, samba e um pouco mais de praia.
Mesmo ainda sendo novo, meu organismo já me fazia entender que era preciso desintoxicar após muito batuque. Resolvi vasculhar a coleção de discos (ainda LPs) do dono da casa e descobri a coleção quase completa de Eric Clapton, que, tirando alguns sucessos, era apenas o nome de um guitarrista. Resolvi conferir porque chamavam o cara de Deus.
Como reza a minha tradição, comecei a ouvir os discos em ordem aleatória e, claro, comecei pelos piores. Depois de ouvir os fracos There’s One in Every Crowd (1975), No Reason to Cry (1976) e o apenas razoável Eric Clapton (1970), já estava começando a achar que aquela fama toda era apenas uma propaganda enganosa. Sem entender as letras (que mais tarde descobri não serem especiais também), tudo o que ouvia eram canções que passeavam pelo country, folk, rock e (poucos) blues, sem muito brilho.
Como última chance, resolvi pegar o disco com as músicas mais famosas de Clapton até então, Slowhand (1977), que tem apenas a trinca Cocaine, Lay Down Sally e Wonderful Tonight. Tirando essas canções, o disco também não me agradava, até que, aos 45 do segundo tempo, ou seja, na última faixa, entendi a razão de tudo. Um pequeno número instrumental, abriu meus olhos e ouvidos: Peaches and Diesel.
Depois de ouvi-la, encontrei melhores álbuns (Another Ticket) e passei a colecionar, ler e entender o rock e o blues. Eric Clapton me ajudou a aprender inglês, conhecer a história da música e me fez gastar muito (mesmo) dinheiro com singles, edições especiais, livros, shows (foram 4 até agora) e viagens. Hoje me considero um grande conhecedor, com centenas de CDs, LPs e livros na coleção.
Talvez muita gente não vá entender a razão deste post, mas espero que escutar Peaches and Diesel – logo no início da playlist do blog – ajude a desvendar o mistério.
PS: Anos mais tarde descobri que Peaches and Diesel foi usada como abertura dos shows da turnê de 1978. Devem ter sido bons tempos.
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