Museu Nacional: um incêndio e muitos culpados

Governos — militares, civis, de direita, esquerda, e “academia” sucatearam um dos espaços mais importantes da nossa história

Foto: Uanderson Fernandes/Agência O Globo

O incêndio que destruiu o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, é, segundo todos, uma tragédia anunciada.

Foram anos de descaso de governos e de diversas reitorias da UFRJ (responsável pelo museu desde 1946).

Outras tragédias

Incêndio no MAM – 1978

Vale lembrar também que desde 1976 o museu funciona fora das recomendações do Corpo de Bombeiros e que, as verbas para tal adaptação são geridas pela mesma instituição que destruiu o Canecão e que vem sofrendo com incêndios em várias de suas instalações.

• 2011: incêndio na capela do campus da Praia Vermelha, de 1850;
• 2016: fogo destrói prédio da reitoria, na Ilha do Fundão

O Rio parece ser palco de incêndios avassaladores. Foi assim com a TV Tupi, TV Globo, com o Museu de Arte Moderna (MAM), que em 1978 perdeu obras de nomes como Picasso, Dalí e Portinari, entre muitos outros, consumidas pelas chamas.

Mas, infelizmente, esses eventos não são uma exclusividade do Rio. É só lembrar o que aconteceu com o Museu da Língua Portuguesa.

Descaso e memória seletiva

Já teve gente (boa) me chamando de reacionário, mas lembro que o repasse de verbas (de responsabilidade única e exclusiva da UFRJ) não acontece de maneira satisfatória acontece desde sempre.

Continuo indignado com as declarações de dirigentes da universidade que citam (em primeiro lugar) o prejuízo de pesquisadores, que perderam seus trabalhos. Sério?

Já ouvi de um reitor e de um secretário que “a função principal da universidade não é difundir conhecimento, mas produzir conhecimento”.

Portanto, o importante é manter a verba para as pesquisas, mesmo que isso signifique mortes no hospital gerido pela instituição ou a destruição de seu/nosso patrimônio.

Vote direito

Então, vote direito, em gente que lute pela boa utilização das verbas, mas não esqueça: governos — militares, civis, de direita, esquerda, e academia sucatearam um dos espaços mais importantes da nossa história.

Lembre também que os governos, durante mais de sete décadas, repassaram verbas para a universidade que, de acordo com a autonomia universitária, distribui o dinheiro para as áreas que preferir.

Dizer que o corte de verbas dos últimos anos é a razão do incêndio é burro. Dizer que o BNDES atrasou durante cinco anos a análise do financiamento para a reforma do museu, é ridículo.

O museu tinha 200 anos e, repito, desde 1946, pelo menos, vem sendo negligenciado.

A indignação dos políticos e dirigentes da UFRJ é asquerosa assim como a memória seletiva de alguns!

Aproveitadores

O fim do museu é a oportunidade perfeita para reforçar o pedido de mais verbas para as universidades.

A demanda poderia ser justa, caso fosse claro para a sociedade onde é investido o dinheiro recebido e quais as condições de cada um dos departamentos da instituição de ensino.

Tomar atitudes como a que destruiu o Canecão é típico de uma academia (sim, em caixa baixa) que vive fora da realidade e de gente que prefere ver destruído um espaço importante para a Cultura em troca de uma ideologia barata e que jamais sairá do plano da imaginação.

Defendo que sejam destinadas as verbas necessárias para o bom funcionamento da UFRJ, mas, mais ainda, defendo que as verbas tenham destinações prioritárias. Na ordem: ensino, manutenção de hospitais e museus, e, depois, pesquisa.

Raiva dos culpados

Sim, estou PUTO com mais esse episódio lamentável que acontece na cidade que nasci, vivo e amo.

A cagada é indescritível e são muitos (muitos mesmo) os culpados (chama-los de responsáveis seria muito educado) pelo que perdemos, não só em termos de memória, como em termos de amor próprio.

Pena saber que as gerações futuras jamais conhecerão um dos espaços mais icônicos e importantes da cidade maravilhosa (também em caixa baixa).

PS: O diretor do museu disse que se o terreno tivesse sido cedido para a UFRJ essa tragédia poderia ter sido evitada. TÁ DE SACANAGEM?

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