Como os grandes jornais lidam com a crise

Continuando o tema do post anterior…

jornaisxxTenho uma pós-graduação e, infelizmente, nenhum MBA (Marketing Digital está sempre na mira), mas nem é preciso tanta qualificação para notar que as estratégias usadas pelos grandes jornais do mundo são radicalmente opostas aquelas usadas pelos jornais brasileiros.

Parece claro que a principal diferença está na qualidade das direções e nos objetivos das empresas. Parece óbvio que não é preciso que apareçam milionários para salvar nossos jornais (embora eles sejam bem-vindos), mas é absolutamente imperioso que as pessoas que vão decidir os rumos de nossos principais títulos.

Há decisões tão estapafúrdias que chega a ser difícil acreditar que foram tomadas (e aprovadas) por pessoas com um mínimo de visão.

Exemplo I: Transformar um jornal tradicional, com tamanho standard, e transformá-lo em um monstrengo de tamanho estranho, com menos oferta de conteúdo e gasto com papel (o maior gasto dos jornais), demissão de jornalistas (claro) e preço maior, só pode dar merda! Não precisa de MBA para saber disso.

Exemplo II: Você contrata para conduzir os rumos editoriais de um jornal econômico um jornalista especializado em reportagens policiais ou (pior) contratar alguém que gosta e só se preocupa com política para comandar um jornal popular. Outra vez, só pode dar merda.

Lá fora, se aposta na excelência da informação, na apuração bem-feita e nos profissionais (vide o caso do Washington Post) e, na maioria das vezes, na consolidação das suas raízes, mesmo que com algumas mudanças graduais de rumo, o que acaba sendo muito impactante no número de assinantes e visitantes das versões online, além de revitalizar e oxigenar a situação das versões impressas.

Aqui, o que se vê são apenas demissões a criação e descontinuação de cadernos especiais (automóveis, imóveis, etc) sem uma razão razoavelmente lógica, enquanto se mantém arcaicos departamentos comerciais que se recusam a evoluir e tentar atrair anunciantes para as versões online e, assim, diminuir as tabelas de preços dos impressos e conseguir manter os níveis de entrada de capital.

Parabéns aos envolvidos e aos que pagam seus salários com vários dígitos.

Em agosto de 2013, quando Jeff Bezos, fundador da Amazon, pagou US$ 250 milhões pelo jornal Washington Post, muitos questionaram a real intenção do empresário. Tão bem-sucedido em um negócio digital, o que ele queria em um segmento com dificuldades como a mídia impressa? Na ocasião, Bezos admitiu que não tinha um plano definido para reverter o quadro de queda de receitas e circulação, mas que ele iria testar e experimentar. E é isso que o empresário vem fazendo. Se apenas em busca de prestígio ou não, Bezos injetou quantias consideráveis no Post e contratou 100 repórteres e 40 engenheiros elevando o jornal à lista das empresas mais inovadoras do mundo, segundo a revista Fast Company.

Diante de uma série de notícias negativas relacionadas a meios impressos, destacar como grandes jornais estão lidando com suas crises financeiras e buscando maneiras de inovação no conteúdo, faz a diferença. Sobretudo, quando pesquisas indicam que o conteúdo noticioso continua com força no ambiente digital. Levantamento da PwC mostra que os meios tradicionais devem apresentar desaceleração no ritmo de alta, até então na casa de 4% ao ano. Porém, a procura deverá aumentar no ambiente digital. Marcelo Ribeiro, especialista em telecomunicações da PwC Brasil, explica que as assinaturas de jornais e revistas e títulos de e-books vão prevalecer no online. “Esse crescimento será impulsionado principalmente pelo ritmo de alta na compra de smartphones”, explica Ribeiro.

washintonpostWashington Post

Cenário financeiro

Antes de ser comprado por Bezos, o jornal sofria com queda de circulação e receita publicitária. A concorrência com a internet reduziu a audiência e pulverizou as verbas publicitárias, além de extinguir os classificados.

Solução para buscar novas receitas:

Investimento em conteúdo – Com a chegada de Bezos, o jornal contratou 100 jornalistas e 40 engenheiros para modernizar a redação que tem cerca de 680 profissionais de conteúdo. O resultado foi um aumento de 60% na audiência da internet, cerca de 50 milhões de visitantes únicos por mês.

Estratégia nacional – Antes restrito à capital dos Estados Unidos, o jornal está expandindo sua abrangência e cobertura para todo o País. Em médio prazo, a estratégia será de dar mais enfoque nacional e, posteriormente, internacional.

Interação entre técnica e conteúdo – Os 40 engenheiros contratados se integraram à redação e estão lado a lado com os jornalistas espalhados pelas editoras e times de infografia.

The New York Times Co. Post An 82 Percent Decline In 2nd Quarter ProfiThe New York Times

Cenário financeiro

A receita do jornal cresceu 22%, de 2010 a 2014, as verbas com anúncios caíram 15%, para US$ 662,3 milhões. As vendas de anúncios digitais somaram US$ 162 milhões em 2014 e estão longe de compensar o declínio da publicidade impressa.

Estratégia de redução de custos

Nos últimos anos, a empresa vem se desfazendo de algumas marcas para focar em seu negócio principal e fortalecer caixa. Foram vendidos os títulos Boston Globe, o site About.com, estações de rádio e TV.

Solução para buscar nova receitas

Assinatura digital – Desde 2011, o jornal cobra pelo acesso online, a iniciativa gerou US$ 169 milhões de receita em 2014 e superou a propaganda como principal fonte de recursos em 2012.

Adaptação do conteúdo às novas gerações – Está tornando disponível, aos poucos, o conteúdo em redes como Facebook e o aplicativo News, da Apple.

Estratégias com marcas fortes – A empresa anunciou, em julho, uma parceria para disponibilizar seu conteúdo no aplicativo da Starbucks, acordo que vale a partir de 2016.

el-pais-espanaEl País

Cenário financeiro

O jornal tinha um alto endividamento e vem buscando a redução, além de ampliar as receitas com projetos online. Nos seis primeiros meses de 2015, o grupo aumentou em 2,3% suas receitas para 650,9 milhões de euros e reverteu um prejuízo de 2,16 bilhões de euros, no primeiro semestre de 2014, para um lucro de 10,68 milhões de euros no primeiro semestre de 2015.

Estratégia de redução de custos

Venda do Canal A+ para o Grupo Telefónica reduzindo sua dívida em 681 milhões de euros, passando de 2,58 bilhões de euros, em dezembro de 2014, para 1,9 bilhão de euros, em 30 de junho de 2015.

Solução para buscar nova receitas

Assinatura digital – A assinatura digital do jornal cresceu 21,4% no online e caiu 1,7% no impresso. O grupo acelerou a transformação digital e, em razão disso, as receitas ajustadas para esse conceito aumentaram 15,3%, até alcançar 94,7 milhões de euros.

Expansão regional – Com um plano de fortalecimento de suas operações regionais, a empresa conseguiu boa evolução no México e na Argentina.

Associar a marca à inovação – O esforço do jornal em se conectar com o público jovem também está na estratégia. Na semana passada, o El País lançou um blog com o objetivo de mostrar como sua equipe lida com as transformações tecnológicas.

Fonte: Meio & Mensagem

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