Crítica: 1973 – O ano que reinventou a MPB

1973capalivroSe vivemos uma época onde as fitas cassetes são desconhecidas, os festivais de música acabaram, os CDs estão virando história e os LPs – aqueles bolachões feitos de vinil – voltaram a moda, nada melhor do que um olhar crítico sobre a época onde os LPs eram verdadeiramente as estrelas da indústria fonográfica, muito antes dos WalkMan, iPods e etc. Foi com a intenção de contextualizar a produção musical brasileira em um dos anos mais importantes de sua história que o jornalista Célio Albuquerque organizou o livro “1973 – O ano que reinventou a MPB” (Editora Sonora), que terá lançamento em Niterói na próxima terça-feira.

Para quem é muito jovem ou nunca se preocupou em conferir os anos nos quais seus discos preferidos foram lançados, um lembrete: 1973, ainda sob forte ditadura e muita censura, foi o ano dos Secos e Molhados, do primeiro disco de Raul Seixas, de Clementina de Jesus e seu “Marinheiro Só” e do debut de Luiz Melodia, só para citar alguns dos 50 títulos revistos pela obra.

Os textos, escritos com liberdade por nomes como Antônio Carlos Miguel, Silvio Essinger, Pedro Só, Rildo Hora, Tavito, Roberto Muggiati e Moacyr Luz, entre muitos outros, dão visões diferentes para cada um dos discos. Alguns em tom mais de crítica musical, outros em clima de memórias nostálgicas e alguns como sinceros depoimentos de quem participou dessa história.

SecoseMolhados1973Como toda lista de “melhores”, a do livro também tem suas polêmicas, a começar pelo próprio ano escolhido. É verdade que 1973 produziu alguma obras que até hoje se mantém atuais e seminais para nossa história musical, mas talvez seja um exagero disser que foi “O ano que reinventou a MPB”, já que um ano antes, apenas para citar um exemplo, foram lançados o Clube da Esquina (Milton Nascimento e Lô Borges) e Acabou Chorare (Novos Baianos), o que põe em cheque o status de reinvenção do ano seguinte. Mesmo entre os títulos analisados (até mesmo alguns que não chegaram ao mercado) podemos perguntar sobre a ausência do disco de Roberto Carlos que, apesar de realmente não ser dos mais inspirados do Rei, conta com canções como Proposta, uma das mais populares de seu repertório, lembrando que Roberto construiu nesta década o seu “reinado”.

Alguns dos textos são deliciosamente envolventes, outros mais informativos, mas em todas as resenhas há um quê de admiração, de reverência (justa) ao que foi produzido. Uma pena que não seja tão fácil reunir todo esse material em CD ou em formato digital, pois ouvir cada um dos discos escolhidos para compor o livro seria um complemento perfeito para o leitor/ouvinte com menos de 40 anos.

Bom saber que ainda há espaço e pessoas com disposição para resgatar nossa história, seja ela de qual setor for. Como diz o prólogo do livro:”os autores não pretendem fornecer explicações… mas sim abordar a certeza absoluta do mistério que envolverá para sempre 1973 – O ano que reinventou a MPB”.

 Serviço:

Lançamento: 1973 – O ano que reinventou a MPB
Local: Livraria Gutenberg, Rua Cel. Moreira Cesar 211 loja 101, Icaraí
Horário: 17h

3 Replies to “Crítica: 1973 – O ano que reinventou a MPB”

  1. Concordo com você que talvez o título de: “O ano que reinventou a MPB”, seja um tanto exagerado e quando pensei nisso foi justamente devido ao Clube da Esquina (Milton e Lô), Acabou Chorare (Novos Baianos) e Expresso 2222 (Gil).

  2. A concepção e publicação do livro “1973 – O ano que reinventou a MPB” não é fruto de uma imposição ideológica, tampouco defesa de tese, como alguns (tendenciosa e maldosamente) tentaram insinuar. Na realidade, a obra é decorrente de uma série de reportagens publicadas em diversos jornais e revistas durante todo o ano de 2013, cuja pauta reincidente foi dedicada a um ano pleno de felizes coincidências fonográficas, que completou quatro décadas. Como foi dito na coluna do Nelson Motta, no Jornal da Globo, 1973 tinha tudo para ser o ano do extermínio da MPB – por conta da ameaça implacável da censura na época e o fim da Era dos Festivais (1965-1972) – mas não foi. O que se presenciou foi o renascimento e o lançamento de uma série de LPs que teimam em resistir ao tempo, muitos deles sendo álbuns de estreia de artistas solo, surgindo daí o mote para o livro. Tanto é que dez entre dez críticos/músicos/jornalistas/historiadores/produtores musicais endossaram e compraram a ideia. Não se trata de ruptura, criação ou mudança radical, mas sim, de transformação. Como disse uma vez o grande cientista Lavoisier: “Na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Esta frase caiu perfeitamente como uma luva no mote deste livro. Encerro este texto parafraseando o jornalista Sílvio Essinger em sua retórica, cuja matéria foi publicada no jornal O Globo em 10 de janeiro de 2013: “Afinal, como é que tanta gente boa apareceu assim, ao mesmo tempo?”

  3. Como disse Marcelo Fróes, editor e um dos 50 colaboradores do livro, nenhum ano foi tão produtivo, nem 1972, nem 1974, muito menos 1983, 1993, 2003… ou 2013.

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