Gal Costa – Recanto – Vivo Rio – 14 de julho de 2012

Por falta de moral e condições financeiras, perdi a estreia do show Recanto, de Gal Costa, na Miranda, ótima e nova casa de shows da Lagoa. Gal, que viajou com seu espetáculo e até teve alguns problemas de voz na temporada paulista, voltou à Cidade Maravilhosa para dois espetáculos no Vivo Rio, na sexta e sábado (13 e 14 de julho).

Com direção de Caetano Veloso, autor da maioria das canções do show, Gal ganha a ajuda de uma boa banda formada por Rafael Rocha (bateria), Pedro Baby (guitarra e violão) e Bruno Di Lullo (baixo). Com uma iluminação, arranjos e divisão de roteiro que lembra em muito o último espetáculo de Caetano – onde cantava as músicas do disco Zii e Zie. Essa estrutura ajuda a destacar a lindíssima voz de Gal, mas também mostrava as mesmas deficiências do show de Caetano – alguns arranjos rasteiros e uma simplicidade do palco que não deverá favorecer um registro em DVD.

O show

O início do show mostrou uma Gal aparentemente ainda um pouco insegura – provavelmente por conta dos problemas enfrentados com a voz em São Paulo – mas o timbre cristalino e a afinação mostraram estar lá. Só foi preciso um pouco de aquecimento. A presença de uma banda faz apenas que a voz da cantora ganhe com as nuances dos arranjos, algo que é muito mais difícil em espetáculos de voz e violão. Com a banda – que vai de momentos acústicos a horas de ferozes solos de guitarra – Gal mostra a versatilidade que parecia meio adormecida nos últimos tempos.

O repertório de Recanto mistura várias canções do disco homônimo (lançado em 2011 e praticamente composto por composições de Caetano Veloso) e vários sucessos (estes também compostos em sua maioria por Caetano). A clara diferença de qualidade entre as canções da nova safra e as mais antigas fez com que a plateia (repleta de músicos, diretores e atores globais e fãs de carteirinha) que lotou o Vivo Rio ficasse em um respeitoso silêncio diante das interpretações sempre cheias de emoção. Mas as manifestações mais quentes vieram mesmo quando a diva (econômica na movimentação e nos passos de dança) entoava números como Folhetim, Barato Total ou O Amor. Porém, o ponto alto (tanto pelo humor como pelo resgate de uma música considerada por muitos como brega) acontece quando Gal canta Um Dia de Domingo, fazendo também a voz de Tim Maia. Sensacional.

Outro destaque dessa mini-temporada foi a inclusão de Modinha para Gabriela (tema da novela em cartaz na Globo) e que não fazia parte do roteiro inicial, mostrado na Miranda. O público foi brindado com essa generosidade de Gal & Cia.

No país das cantoras, é fácil afirmar que Gal Costa continua sendo uma das mais belas vozes já surgidas no Brasil e que, mesmo que algumas vezes o repertório ou a estrutura de seus shows não ajudem na valorização dessa voz, ela ainda tem o poder de enfeitiçar o público com sua presença e seu cantar.

Recanto merece um belo registro em CD e DVD.

Fotos e vídeos: Jo Nunes



O setlist

1. Da Maior Importância (Caetano Veloso, 1973)
2. Tudo Dói (Caetano Veloso, 2011)
3. Recanto Escuro (Caetano Veloso, 2011)
4. Divino Maravilhoso (Caetano Veloso e Gilberto Gil, 1968)
5. Folhetim (Chico Buarque, 1978)
6. Mãe (Caetano Veloso, 1978)
7. Segunda (Caetano Veloso, 2011)
8. Minha Voz, Minha Vida (Caetano Veloso, 1982)
9. Barato Total (Gilberto Gil, 1974)
10. Autotune Autoerótico (Caetano Veloso, 2011)
11. Cara do Mundo (Caetano Veloso, 2011)
12. Deus É o Amor (Jorge Ben Jor, 1968)
13. Dom de Iludir (Caetano Veloso, 1982)
14. Neguinho (Caetano Veloso, 2011)
15. O Amor (Caetano Veloso e Ney Costa Santos sobre poema de Vladimir Maiakovski)
16. Baby (Caetano Veloso, 1968)
17. Vapor Barato (Jards Macalé e Waly Salomão, 1971)
18. Um Dia de Domingo (Michael Sullivan & Paulo Massadas, 1985)
19. Miami Maculelê (Caetano Veloso, 2011)
20. Mansidão (Caetano Veloso, 2011)
21. Força Estranha (Caetano Veloso, 1979)
22. Meu Bem, Meu Mal (Caetano Veloso, 1981)
23. Modinha para Gabriela (Dorival Caymmi, 1975)

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