O forró arretado de Mariana Aydar

Veia Nordestina I, álbum de Mariana Aydar, é dividido em quatro EPs e mistura tradição e modernidade

É sempre bom quando um ritmo brasileiro ganha novo fôlego. O forró, que, apesar dos vários trios elétricos espalhados pelo país, andava em passos lentos no quesito evolução, ganha uma voz de peso com Mariana Aydar.

Formato diferente

Ex- backing vocal de Daniela Mercury, a paulistana Mariana Aydar apresenta o projeto Veia Nordestina I. O álbum está sendo montado de uma maneira diferente: serão lançados quatro EPs com três músicas cada, que irão formar o disco, acompanhados de um mini documentário, também em quatro episódios.

— Nos últimos tempos em me vi mais como consumidora de música e minha maneira de ouvir música é bem diferente do que era dois anos atrás. Dificilmente ouço um disco inteiro. É um processo que está mudando e temos que nos adaptar. Por isso acho importante experimentar esse novo formato de produção e lançamento. As mudanças são inevitáveis — revela a artista.

O projeto, que conta com o patrocínio da Natura Musical, segue uma lógica própria, bastante diferente do usado em um disco normal.

— Estou fazendo aos poucos. Tenho dois primeiros EPs prontos e vou entrar em estúdio para gravar os outros dois. Estou achando muito doido fazer esse disco desse jeito, mas está sendo bem legal — conta a cantora.

Os quatro sabores de forró de Aydar

A ideia de lançar quatro EPs traz a possibilidade de compartimentar as canções e climas. No primeiro EP — já disponível nas plataformas de streaming — é animado e com um quê de rock’n’roll.

— A minha relação com o forró sempre foi mais subjetiva. Eu sempre gostei de adicionar elementos ao forró. Eu acho o forró muito energético, muito rock’n’roll. O formato comum do forró é um power trio (zabumba, triângulo e sanfona) que produz um som que mexe com qualquer um. Eu queria me abrir e poder misturar essas coisas. Fazer o meu forró — diz Mariana.

A primeira canção, Veia Nordestina (Mariana Aydar/Isabela Moraes), que dá nome ao projeto, começa mais tradicional, mas logo chega ao balanço que guia as demais canções do EP. A mistura do tradicional e moderno pode parecer receita velha, mas o moderno aqui realmente ganha cores e sons que se distanciam do que se ouve normalmente.

Se Pendura (Duani), que segue Veia Nordestina, é balançada e com um ritmo que faz até o mais roqueiro dos mortais balançar. Com uma pegada de xote e uma pegada de samba enredo dos dias de hoje — acelerado e com um refrão repetitivamente contagiante.

Para fechar, Forró do ET (Mariana Aydar), encontro com a musa Elba Ramalho, também tem a proposta de balançar o esqueleto. O resultado não é tão bom quanto os das duas primeiras canções, mas mesmo assim fica longe de ser um fracasso.

Festa junina à vista

O próximo EP, que será lançado em junho, tem a promessa de ser mais tradicional e menos agitado.

— Todos os EPs têm essa mistura de elementos, mas o segundo está um pouco mais tradicional porque ele vai ter uma cara mais de São João. Quis abraçar mais o “arrasta pé” de uma maneira um pouco mais tradicional, mas com o meu jeito, a minha cara. Todo ele com músicas inéditas — adianta Mariana.

Para quem gosta de trios elétricos (e até para quem torce o nariz) vale ouvir a primeira parte de Veia Nordestina I.

Perigo para os projetos culturais

Aqui um espaço para refletir sobre as mudanças na (ex) Lei Rouanet. O corte no teto de financiamento pode colocar em risco vários bons projetos, como o Natura Musical.

Que se queira limitar os financiamentos para grandes empresas e/ou artistas, é compreensível, mas para isso já existem regras, que precisam apenas ser cumpridas. Criar novas restrições para a Cultura parece um tiro no pé do futuro do nosso país. Educação, Saúde e Cultura são imprescindíveis para qualquer nação que deseja ser grande, desenvolvida e rica (em todos os sentidos).

— A gente fica preocupado por causa das artes em geral, não só de entretenimento. Acho uma pena e uma grande perda para a Cultura brasileira — concorda Aydar.

Ainda é cedo para quantificar os resultados dessas mudanças, mas fica claro que não serão positivos para o Brasil. Uma pena que, em nome de uma “limpeza nos financiamentos” projetos de importância e relevâncias incontestes possam ter sua continuidade ameaçada.

Desde seu lançamento, em 2005, o programa investiu R$ 132 milhões no patrocínio de 418 projetos – entre CDs, DVDs, shows, livros, acervos digitais e filmes. Os trabalhos artísticos renovam o repertório musical do país e são reconhecidos em listas e premiações nacionais e internacionais.

Uma versão deste texto foi publicada na Revista Ambrosia

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