Livro recoloca os Monkees na elite do pop-rock

Biografia do guitarrista Peter Tork desconstrói mitos sobre os Monkees e sua música

Os anos 60 foram uma época de mudanças, revolução cultural, guerras e mitos. Na música, vimos o surgimento dos Beatles, dos Rolling Stones, Jimi Hendrix, Eric Clapton, The Who e… dos Monkees.

O livro recoloca a carreira dos Monkees no seu devido lugar

Pode causar estranheza para muita gente a inclusão nesta lista de uma banda que hoje é lembrada por ter sido fabricada e não tocar seus próprios instrumentos.

Porém, essas afirmações são alguns daqueles mitos citados no parágrafo anterior e que são desconstruídos no livro Love is Understanding – A Vida e a Época de Peter Tork e os Monkees, do biógrafo Sergio Farias, lançado pela editora portuguesa Chiado Books.

Um pouco de história

Antes de falar do livro propriamente, vale uma pequena volta na história para entender o fenômeno dos Monkees, que fez com que a banda (em 1967, nos Estados Unidos) vendesse mais discos que os Beatles e os Rolling Stones juntos.

Jimi Hendrix chegou a ser o músico de abertura em uma das turnês da banda. Dá para imaginar?

Em 1966, os Beatles já eram o maior fenômeno musical da Terra. A invasão das bandas britânicas tomou conta das paradas norte-americanas e um contra-ataque se aproximava.
Uma das ideias que surgiram foi a criação de um programa de TV que misturasse música com uma linguagem mais jovem.

Assim, os produtores Bob Rafelson e Bert Schneider colocaram um anúncio em revistas procurando por “músicos de folk e rock para interpretar quatro garotos insanos em uma nova série de TV”. Desta forma, surgiam os Monkees — Micky Dolenz, Davy Jones, Peter Tork e Michael Nesmith.

— A série, por ter sido um projeto pioneiro, produzido por jovens cineastas, revolucionou a TV americana, sendo um dos pilares na Nova Hollywood. Até mesmo o filme Head é icônico, nem que seja pelo roteiro escrito por Jack Nicholson — diz Sergio.

O bobo erudito

A escolha por Peter Tork, que acaba de completar 67 anos e que na séria fazia o bobo da corte, mostrou-se acertadíssima, já que o guitarrista é (pessoalmente) a figura com a história mais rica dos quatro Monkees e o único sem uma biografia publicada até então.

Tork - Um filho da era Flower Power

— Peter era disparado o melhor músico da banda, já que tocava sete instrumentos, tinha formação em música clássica. Além disso, ele teve a vida mais interessante. Perdeu tudo, foi preso, lutou contra o álcool e as drogas — explica o biógrafo.

É verdade, a vida de Peter Tork foi uma montanha russa, passando de jovem milionário, músico de sucesso e convidado para tocar no primeiro projeto solo do beatle George Harrison, a um quase desconhecido, tocando em bares pobres e parques, perdendo seu dinheiro para a Receita Federal e sendo preso por porte de drogas.

A história de Tork é um caso típico e que representa muitos astros dos anos 60 e 70 que não souberam se manter depois do pico de fama. Com uma série de projetos que não decolaram e um estilo de vida incompatível com a renda disponível.

Livre das drogas e sem dívidas com a Receita Federal

Se hoje o músico está limpo das drogas, reconquistou parte do patrimônio e faz concertos solo, com sua banda de blues e eventualmente com os outros monkees vivos (Davy Jones faleceu em 2012), tenha certeza de que a sua estrada não foi fácil.

Uma série sobre um grupo de rock?

A lenda de que os Monkees eram apenas atores que interpretavam músicos de uma banda de rock foi criada e alimentada, em grande parte pelos próprios membros da banda. Na verdade, todos era músicos e já haviam tido suas experiências no mercado fonográfico.

—Todos já tinham alguma experiência. Micky havia protagonizado uma série de TV quando era criança (Circus Boy), Mike já havia lançado alguns singles, Davy tinha participado da peça Oliver e havia, inclusive, se apresentado no Ed Sullivan no mesmo dia que os Beatles, e Peter já participava de várias bandas — explica o autor.

Hoje, são admirados por grandes astros do rock, como o U2.

Músicos x Músicos

Uma das grandes diferenças culturais entre ingleses e americanos se dava em relação aos músicos utilizados nas gravações.

Enquanto na Inglaterra eram os próprios músicos que tocavam seus instrumentos nas gravações, nos Estados Unidos a prática mais comum era contratar músicos de estúdio para fazer a base das canções.

Foi assim que surgiu um famoso grupo de talentos chamado de Wrecking Crew (Turma da Demolição) e que foi responsável por praticamente todos os sucessos gravados no país (inclusive o brilhante Pet Sounds, dos Beach Boys).

No auge da fama, em meados da década de 1960

Nesse grupo destacavam-se nomes como Larry Knechtel, Leon Russel, David Gates, a baixista Carol Kaye e Glen Campbell.

Portanto, dizer que os Monkees eram fabricados porque não tocavam seus instrumentos nos discos é/era um argumento dos mais frágeis. Ou será que The Mamas & the Papas, Byrds e os Beach Boys também eram fabricados?

Essa era a regra nos Estados Unidos e não é fácil entender a razão de tanto alvoroço quando foi divulgado que os Monkees não tocavam seus instrumentos nas sessões de gravação.

Fogo amigo

Infelizmente, grande parte do preconceito em relação aos Monkees foi criado pelos próprios integrantes da banda. Numa mistura de egos, falta de camaradagem e pouquíssima inteligência, Mike, Davy, Micky e Peter, deram (e dão) munição para seus críticos.

— Foram eles os responsáveis por tudo de ruim que aconteceu com a banda e a sua reputação. Principalmente em relação a esta bobeira que é o fato de não tocarem seus próprios instrumentos — complementa Sergio.

O pouco tempo de auge da banda, as constantes brigas e o esquecimento por parte da crítica e do público se deve, em grande parte, ao descompasso entre os quatro Monkees.

O autor e os três Monkees vivos: Peter, Mike e Micky

O fogo amigo parece acontecer até hoje. Micky Dolenz, por exemplo, não para de repetir que “chamar os Monkees de um a banda é o mesmo que dizer que o Leonard Nimoy se transformou no Sr. Spock”.

Compositores de primeira

Quem menospreza o legado da banda não deve saber que a maioria dos seus sucessos foi escrito por uma constelação de craques renomados e respeitados em todo o mundo.

Afinal, o que dizer de nomes como Carole King, Harry Nilson, David Gates, Tommy Boyce e Bobby Hart, Neil Diamond, Jerry Leiber e Mike Stoller, ou Neil Sedaka?

A escolha do time de compositores foi uma das razões da banda vender tantos discos. Eles não eram apenas rostinhos bonitos. Seus discos tinham qualidade, por mais que haja detratores que, muito provavelmente, nunca os ouviram com atenção.

Uma sucessão de hits

Não há como fugir de canções que entraram na história do pop como Last Train to Clarksville, Pleasant Valley Sunday, Goin’ Down, Daydream Believer ou até mesmo o tema da série, (Theme from) The Monkees.

Apesar de apenas uma composição de Tork entre no hall dos hits da banda — For Pete’s Sake — o músico sempre foi considerado o de maior potencial, apesar da sua pouca habilidade como cantor. Infelizmente, sua carreira nunca decolou.

O Brasil

Outro fato pouco conhecido do público é que Peter Tork já esteve e até fez shows no Brasil, coisa que os próprios Monkees nunca fizeram. Isso aconteceu em 2003, quando tocou por duas vezes em São Paulo. Não houve grande repercussão e sua passagem por nosso país quase nunca é lembrada por crítica e fãs.

Documento histórico

Love is Understanding – A Vida e a Época de Peter Tork e os Monkees é um registro de uma época onde a vida era mais simples, o amor era livre e os talentos pareciam aparecer em qualquer lugar e em quantidades absurdas.

A história de Peter Tork é envolvente, reveladora e vem embalada em um texto leve, descritivo e bem-humorado. Uma ótima leitura.

Cotação: **** ½

Serviço

Love is Understanding – A Vida e a Época de Peter Tork e os Monkees

Número de páginas: 396
Preços: R$ 9 (ebook) e R$ 52 (edição física)
Link para encomendas

Uma versão deste texto foi publicada na Revista Ambrosia

Conheça um pouco da música dos Monkees

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